Continuo traduzindo. A tradução é minha pinga. Traduzo como o bêbado bebe: para esquecer, para atordoar. Enquanto traduzo, não penso na sabotagem do petróleo.
(Monteiro Lobato em carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 15/4/1940)

sei exatamente do que lobato fala. chama-se escape. como quando eu escrevia meu primeiro artigo acadêmico, numa dificuldade extrema, e relaxava colorindo*. ou quando, no início do mestrado, eu organizava meu guarda-roupa toda semana e passava horas lavando meu fogão. era pra esquecer, para atordoar. e penso que é exatamente isso que me falta nesse momento da dissertação: essa possibilidade de não pensar nela. durmo mal, como mal, faço as coisas com certa dor na consciência - por exemplo, estar aqui agora fazendo um post me dói, porque eu poderia estar grudada melhorando o texto. mas, ao mesmo tempo, eu sei que preciso de tempo de maturação frente ao que escrevo, pra poder ler com ar crítico e conseguir fazer a coisa progredir. uma sinuca de bico, enfim.

*nessa época meu pai me deu vários livros de colorir, daqueles de criança mesmo.