terça-feira, junho 24, 2008

1001 maneiras de dizer tudo sem dizer nada

por Patrícia 'Ticcia' Antoniete
de Porto Alegre [RS]

[24/06/2008]

Diga que me ama muitas vezes, de todas as maneiras. Não me acostumo mal, prometo, me acostumo sempre bem. Meus ouvidos não gastam e minha pele fica mais sedosa. Diga que me ama e meus cabelos ficam mais brilhantes, eu rebolo mais bonito, rio com os olhos, sinto um formigueiro bom no estômago e uma geléia molinha nas pernas.

Diga que me ama e eu ando melhor de bicicleta, desenho melhor e canto desafinando muito menos. Diga que me ama bem cedo, quando ainda está escuro, tateando para se certificar de que eu existo. Diga que me ama e eu brinco com o cachorro, tenho paciência no engarrafamento, me alimento direitinho e até como salada. Diga que me ama me esperando para o café, descansando seu pé sobre o meu.

Diga que me ama e meus olhos ficam quase verdes, minhas pernas ficam leves e todo mundo acha que eu tenho 5 centímetros mais. Diga que me ama em silêncio olhando pela janela para o mesmo gato adormecido, sorrindo do mesmo jeito que eu. Diga que me ama e meu sono melhora, meu banho é mais demorado, eu ligo menos para as olheiras e caminho sem tropeçar pela calçada. Diga que me ama sempre um pouquinho, cada dia mais, adivinhando porque minha testa está franzida.

Diga que me ama e eu não esqueço as chaves dentro do carro, ando de vidros abertos, ouço música alta dançando como uma louca e não me importo se riem de mim no sinal. Diga que me ama quando eu estiver gripada e precisar de sopa e de cuidados. Diga que me ama e eu trabalho dobrado, arrumo as gavetas, limpo a geladeira e ponho flores nos vasos. Diga que me ama sem nenhuma palavra outra, só dizendo o meu nome do jeito que ninguém mais diz.

Diga que me ama e eu capricho no perfume, uso batom vermelho, ponho brincos maiores e compro um vestido rodado. Diga que me ama de repente e me lasque um beijo demorado sem contar que todo mundo parou para ver. Diga que me ama e tenho vontade de ir à praia, ando de pés descalços, nunca mais choro escondido no banheiro e imito seu jeito de falar.

Diga que me ama olhando para a lua, mesmo a muitos quilômetros de distância. Diga que me ama e eu escuto Sinatra, escancaro as janelas e suspiro na fila do banco.

Diga que me ama muitas vezes, de todas as maneiras. Não me acostumo mal, prometo. Me acostumo sempre bem.

2 comentários:

Unknown disse...

muito lindas as coisas que vc colocou e escreveu aqui esses últimos dias....bjos

Liliane Pelegrini disse...

é o que a gente precisa ouvir. mas eu preferia que, além de cego, o amor fosse surdo e a gente nem precisasse.