quinta-feira, março 18, 2010

querida clarissa,

vejo em suas palavras alegria e em seus olhos uma tristeza contida, apesar de todos os seus amigos parecerem acreditar que você está bem.

querida amália,

algumas tristezas, mesmo que esperadas, dóem em nossa alma. quando chove sinto que as gotas apagam, pouco a pouco, a minha esperança de que haja algo além do que já conheço. a ignorância é uma benção, já não quero mais saber.

querida clarissa,

imaginar-te ignorante é algo que não tolero. sinto por sua falta de felicidade tão bem escondida, por suas falas espirituosas e a sempre incrível capacidade retórica de fingir. hoje almocei lentilhas e lembrei-me de você.

querida amália,

quando penso no fim não consigo me conformar. mesmo tendo abandonado me sinto a abandonada, eu não queria ter feito nada do que fiz. mas meu orgulho e instinto de preservação falaram mais alto e a consciência de que posso ter a chamada 'compulsão por repetição' me fez ainda mais dura no momento de decidir-me. tinha cá pra mim que agora sim viveria um grande amor, mas era apenas uma mentira.

querida clarissa,

seu amor não foi uma mentira. sua figura sempre tão dedicada, seu cuidado ao guardar segredos que provavelmente nunca mais serão revelados a ninguém, a sua vontade de ser feliz - tudo foi verdade. mas existe sempre perigo na entrega; como saber o limite?

querida amália,

hoje comprei gérberas vermelhas pensando em você e na sua capacidade de combinar cores, virtude que não carrego. penso que minha vida preto e branca é bela, porém está fadada a finais trágicos. ontem pensei que meu peito fosse explodir tamanha era a tristeza. chorei pela primeira vez desde o fatídico acontecimento e o fiz por horas - até ficar com dó de mim. chorei por tudo o que nunca tive e por me sentir culpada por isso.

querida clarissa,

não foi culpa sua.

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