domingo, novembro 05, 2006

ainda creio que você,
quando eu menos esperar,
possa me chegar com um verso em atitude.
(F. Young)


ela esbraveja, ela xinga, ela quebra os porta-retratos. ele ouve, olhando vezes para ela, vezes para dentro de si mesmo, vezes para a história dos dois sendo despedaçada pelo chão. ela reclama da sua falta de atenção, dos seus gestos sempre tão distantes, de suas prioridades que parecem não incluí-la (ela acaba de quebrar uma das lembranças da viagem que fizeram a paris; isso causa uma dor imensa a ambos). ela diz que está cansada e que, apesar de amá-lo, não tem certeza de que conseguirá manter vivo o azul, que anda empalidecendo. ofegante, ela senta na poltrona florida, tão linda (ela pega uma caneta ao lado do abajur; foi por causa de uma caneta que eles se reconheceram há muito tempo). tão frágil, tão cheia de tristeza, ela apenas chora. ele a observa, num misto de espanto e admiração frente àquela mulher sempre tão controlada e que, pela primeira vez, se deixou desabar. ele tenta caminhar até ela, até a poltrona florida (os dois escolheram o tecido do móvel quando o reformaram), entre os cacos de vidro e as lembranças rasgadas. mas o máximo que consegue é dizer vem me dar a mão, meu amor, porque sem você minha vida simplesmente não acontece. e até as flores flicts da poltrona tremeluziram num azul imenso.

Um comentário:

Anônimo disse...

A tal caneta (ah, a caneta!!) provavelmente era azul também, não?